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Professor, é a escola que te pensa ou você que pensa a escola?

Uma pequena reflexão sobre a ilusão do livre arbítrio
Professor, é a escola que te pensa ou você que pensa a escola?
O filósofo Baruch Spinoza (1632-1677)

Se é a primeira que prevalece, você está sendo pensado por uma estrutura discursiva e sensível, baseada num saber construído ao longo de alguns séculos, que está dando forma à sua maneira de pensar, sentir, agir e compreender a sua realidade escolar.

Se é a escola que te pensa, você naturalizou que o aluno só aprende por meio da aula; que os problemas de comportamento dos estudantes ou de produtividade dos professores são questões individuais; acredita que você, assim como o aluno, devem obedecer regras de conduta escolhidas por superiores mais bem preparados ou poderosos; que professores e estudantes só podem ser avaliados através de provas e classificados com notas que os comparam aos demais colegas. Esta maneira de pensar a escola não é a melhor, nem a mais ética - é apenas a mais útil e adaptada ao modelo de conhecimento e sensibilidade escolhido para que a escola produza as futuras peças da máquina social. Um modelo que permite que alguns poucos extraiam lucro econômico do trabalho de muitos. E esse modelo nos adoece.

Se é a escola que te pensa, você se sente mal quando os alunos, mesmo em fila, não ficam em silêncio ou demoram a copiar o que você coloca no quadro por estarem conversando entre si. Você também acredita que eles devem ser divididos por séries e idades, que cada professor deve trabalhar isoladamente com uma turma por vez, e que as áreas do conhecimento devem ser fragmentadas em disciplinas - ainda que esta separação não exista no mundo real. Essas crenças, que você talvez considere fundamentadas cientificamente, são apenas uma entre várias formas possíveis de organizar a escola. Esta maneira de organizar a escola não é a melhor, nem a mais ética - apenas a mais útil e adaptada ao modelo de organização do trabalho escolhido para que a escola produza as futuras peças da máquina social. Um modelo que permite que alguns poucos extraiam lucro econômico do trabalho de muitos. E este modelo nos adoece.

Mas, se por outro lado, nós passarmos a pensar a escola... Então é preciso iniciar um trabalho de desconstrução destas crenças em nós. Porque as introjetamos ao longo da vida - como estudantes e como professores - completamente inconscientes da dimensão do problema. Este processo pode se dar de diferentes maneiras: pela convivência e estudo de educadores e educadoras que criaram outros modos de vivenciar as relações escolares e que refletiram sobre os problemas que enfrentamos; por meio da inspiração produzida por inovadores de outros campos que repensaram as instituições das quais faziam parte na busca por sentido e autonomia; ou pelo contato com pensadores e pensadoras que desenvolveram práticas de desconstrução dos nossos preconceitos e expuseram as capturas cotidianas que nos empurram para um modo de vida útil - e, por isso mesmo, conivente com esta sociedade adoecida.

Para sobreviver a este sistema, e, quem sabe, um dia, deixar de apenas sobreviver para viver com dignidade - necessitamos de aliados. De uma comunidade que sustente nosso espírito. Essa comunidade pode ser de pessoas próximas ou distantes, mas também de livros (muitas vezes escritos por pessoas que já não estão mais neste mundo na forma humana), de filmes, de ideias que nos inspirem a construir uma práxis transformadora de nós mesmos, em primeiro lugar, e da escola, como consequência. Trata-se da tarefa de viver e aprender a viver em comunidade - aprender com nossos aliados.